hoje é o dia mundial da arquitectura

Estou quase a fazer 2 anos que embarquei nesta aventura que é a vida profissional.
Ao fim deste tempo passei a gostar mais da minha profissão e a gostar menos dos arquitectos.
É um pouco paradoxal, tenho de admitir. A verdade é que a prática da profissão tem sido algo que tenho, a cada dia, procurado (e graças a Deus conseguido) desempenhar melhor. Há coisas que de facto só se aprendem fazendo. E fazendo a sério, não como um exercício por vezes idiota solicitado por um qualquer professor.
O problema é o estado da profissão, não só da minha, admito, este é um cancro geral que se espalha um pouco por todo o lado, mas que, julgo estar ainda mais potenciado no meio dos arquitectos portugueses. A exploração é inimaginável, os discursos repetitivos, as promessas (por cumprir) ilimitadas. Esta história de que somos todos patrões de nós próprios, trabalhadores responsáveis e independentes serve apenas os benefícios de alguns, muito poucos, que pouco se importam de andar a explorar todos os outros. Uns mais, outros menos, mas quase todos um pouco. Todos aqueles que desempenham um qualquer papel de chefia falam muito nas obrigações de dar algo à empresa (sejam horas extra, empenho, disponibilidade, alegria, aceitação...) e muito pouco naquelas que deviam ser igualmente as obrigações de receber algo da empresa (salários mais justos, segurança social paga, subsídios de férias, de almoço, de natal, ou seja, contratos dentro da lei e não esta situação promíscua que são os recibos verdes à primeira vista dentro da lei mas sobre um olhar mais atento completamente fora da lei já que levam a que trabalhadores por conta de outrém (con)vivam com as finanças como os grandes trabalhadores independentes para os quais o nosso actual PR criou os ditos papelinhos verdes).
A dita "classe" não se protege, bem pelo contrário, esquece que no fundo somos todos colegas de profissão, retirando alguma (para não dizer muita) da dignidade inerente ao exercício da profissão.
A ordem por sua vez, faz estudos, chega a conclusões do estado da profissão, mas agir para alterar o estado das coisas, não. Bem sei que é porque a grande maioria daqueles que por lá andam são aqueles que mais beneficiam de tal situação. É de tal forma a desconsideração para com aqueles que, com esforço querem integrar a profissão inscrevendo-se na Ordem, se encontram como eu à espera que novas eleições, já que o conselho de admissão decidiu demitir-se deixando largas centenas de futuros estagiários ou futuros membros efectivos à espera de alguém que à luz dos estatutos possa, ou aceitar novas propostas de estágio ou novos membros efectivos (como eu que terminei o meu estágio a meados de Agosto e continuo à espera que cheguem novos membros para me validarem o dito cujo). Disseram-me, quando liguei que teria de esperar que houvesse novo conselho de admissão. Questiono-me sobre o que aconteceria se as eleições não fossem já neste mês e por exemplo daqui a meio ano... continuariamos todos à espera? Curioso é que ninguém me informou do estado das coisas quando lá fui entregar os papéis de conclusão. Ninguém esperou para receber mais uma (idiota) taxa que tive de pagar...
Neste dia mundial da arquitectura, se em vez da ordem se preocupar com as casas "verdes" se preocupasse com os jovens arquitectos, esses sim, amarrados a um sistema "verde"... isso é que seria de valor.